Existe uma dificuldade comum a muitos alunos, no meu consultório: a síndrome da mediocrização. Esta síndrome consiste naquele processo em que o jovem banaliza suas qualidades, desperdiça oportunidades e valoriza pontos fracos a fim de adaptar-se ao grupo, à sociedade. Infelizmente, na forma de organização da nossa sociedade, o normal é ser medíocre. Ter talento, ter auto-estima (gostar de si, evitar drogas), destacar-se precocemente, é a exceção e não a regra. Desta forma, muitos alunos negligenciam seus potenciais, boicotando seu sucesso, sua aprovação no vestibular ou em um concurso mais concorrido.
Os jovens que se sentem “estranhos” constantemente, com baixa auto-estima apesar de reconhecer em si várias capacidades e sabem que podem produzir mais do que realmente estão produzindo, precisam investigar se sofrem desta síndrome para libertar-se das ideias e heranças recebidas da educação, da família, além de outros grupos normotizadores. Assumir a real capacidade exige coragem, tenacidade e principalmente responsabilidade. Por isso, o meu recado hoje é para todos aqueles que podem e querem fazer a diferença de alguma forma, alçando vôos maiores.
Para ilustrar essa situação, gosto de utilizar a Parábola da Águia e da Galinha, de James Aggrey:
Um camponês criou um filhote de águia junto com suas galinhas, tratando-o da mesma maneira que tratava as galinhas, de modo que ela pensasse que também era uma galinha: dava-lhe mesma comida jogada ao chão, a mesma água num bebedouro junto ao solo de tal modo que ela tinha de ciscar. A águia, logicamente, passou a se comportar como se galinha fosse.
Certo dia passou por sua casa um naturalista. Diante da águia a ciscar o terreiro, interpelou o camponês:
– Isto não é uma galinha, é uma águia!
O camponês retrucou:
– Agora ela não é mais uma águia, agora ela é uma galinha!
O naturalista disse:
– Amanhã, veremos.
Dia seguinte, logo pela manhã, subiram até o alto de uma montanha levando a águia.
O naturalista levantou a grande ave acima de sua cabeça e disse:
– Águia, veja o horizonte, veja o sol lá em cima e os campos verdes lá embaixo. Todas essas nuvens podem ser suas. Desperte para sua natureza e voe como águia que é.
A águia maravilhou-se com a beleza das coisas que nunca tinha visto. Ficou um pouco confusa, no início, sem entender o porquê tinha ficado tanto tempo alienada. Aos poucos, deu-se conta do sangue que lhe corria nas veias, perfilou as imensas asas e partiu num vôo lindo, até que desapareceu no horizonte azul.