Você tem a impressão de que pensar em reeducação alimentar aumenta o seu desejo por doces? Já reparou que, quando você tenta economizar, pensamentos consumistas disparam em sua mente, tal qual uma metralhadora? Há, também, aquelas pessoas que precisam estudar para um concurso ou vestibular e ficam tão ansiosas que correm para a geladeira ou se esquecem da vida zapeando na internet. Afinal, somos todos descontrolados? Por que isso acontece?
Aqui estamos diante de um dos maiores desafios à força de vontade: parece existir, dentro de nossas cabeças, uma voz que nos inferniza, que percebe as tentações como irresistíveis e nos leva a ceder. Podemos fazer uma analogia dessa voz com um macaco, como se nossa mente fosse dominada por esse animal agitado, obcecado e irredutível frente a qualquer argumento racional. É aquela voz que nos convence que sempre tem algo mais importante antes de fazer o esforço extra: assistir a um vídeo no Youtube ou a mais um episodio do seriado predileto, dar uma olhadinha no Instagram ou no Facebook. Ou, ainda, “somente mais um docinho”, “mais uma comprinha”.
O nosso “macaco interior” fica ainda mais agitado quando mexemos em condições que ativam o sistema de alerta do nosso organismo. Por exemplo: ele compreende que se estamos pensando em comer menos ao começar uma reeducação alimentar, é porque vai faltar comida. Se pensamos em gastar menos, é porque vai faltar dinheiro. Se precisamos nos exercitar para cuidar da saúde, é porque adoecimento e morte estão próximos. Até mesmo ter de trocar a marca de um produto ou o restaurante pode nos causar esse estresse.
A proposta de mudança de hábito é percebida como um risco, um verdadeiro perigo ao equilíbrio, seja qual for o tipo de mudança. As regiões do cérebro responsáveis pela sobrevivência, instintivamente, desencadeiam reações de luta ou de fuga diante de qualquer mudança, ainda que simples. Toda tentativa de criar novos comportamentos estabelece esse conflito natural e instintivo entre o medo da mudança e o exercício do autocontrole para ir em frente.
Para compreender melhor a natureza desse conflito, os pesquisadores sugeriram a teoria das duas mentes, ou seja, que temos um cérebro e duas mentes – uma impulsiva e outra racional. Basicamente, o que acontece é que, enquanto uma parte deseja ter uma gratificação imediata e tenta evitar o conflito, economizando energias para um imprevisto, a outra parte compreende que o conflito leva à evolução e usa o autocontrole da vontade para realizar ações que direcionem o indivíduo a resultados significativos. Estar consciente de que esse conflito é natural diante de qualquer novo desafio auxilia na superação do medo da mudança.
O Eu instintivo (representado pelo macaco) também é chamado por alguns estudiosos do tema como sistema 1 ou quente; está relacionado às decisões automáticas que garantem a sobrevivência, às reações de luta ou fuga – coordenadas, principalmente, pelas amígdalas e pelo hipocampo.
Esta é a nossa parte que busca a gratificação imediata e evita a mudança para economizar energia, caracterizando a nossa avareza cognitiva. É como se perguntasse: existe uma maneira de resolver isso gastando o mínimo de energia? Exemplos de comportamentos decorrentes da parte instintiva são procrastinar, comer e beber em excesso, gastar mais do que ganha ou gastar sem necessidade, ficar durante horas na internet sem se dar conta, apresentar a síndrome da agenda lotada. O Eu instintivo é aquela parte nossa que deseja dormir e acordar somente depois de ter o problema resolvido.
Esta parte é aquela que reage com os sintomas caraterísticos da preguiça: se for possível enfrentar um desafio pela lei do menor esforço, é exatamente isso que o nosso cérebro escolherá – sempre o caminho mais fácil. Essa é a tendência natural do ser humano: economizar energias. Na área da Psicologia Econômica, os estudiosos consideram o nosso cérebro preguiçoso, mas tudo indica que, na verdade, ele é sovina, avarento – libera recursos para esforços extras ou mudanças se for estrategicamente convencido. Para convencê-lo, temos de começar a usar a racionalidade e o autocontrole.
O Eu racional (representado pelo sábio interior), também denominado sistema 2 ou frio, está relacionado às decisões ponderadas, não relacionadas à satisfação das necessidades imediatas, mas ao reconhecimento de que o desconforto pode levar à evolução. O ser humano primitivo precisava ficar desconfortável com a iminência de terminar a comida ou a água e, por isso, desenvolveu um mecanismo de preocupação para mudar e empreender – antes que o problema se instalasse – ou morreria de fome e de desidratação. Essas são as decisões racionais, ponderadas, que consideram as consequências no longo prazo, representadas pelo nosso sábio interior.
A estrutura cerebral envolvida no sistema frio é o córtex pré-frontal, que foi se adaptando de forma lenta às necessidades humanas: primeiro, foi responsável pelos movimentos primários; depois, pelo autocontrole para conviver melhor em grupo; e, recentemente, a longevidade está exigindo desenvolver o córtex pré-frontal para as metas de longo prazo. A nossa dificuldade para estabelecê-las e cumpri-las também se deve a esse fato: o nosso cérebro está se adaptando a essa novidade evolutiva; por isso, para a maioria das pessoas, a parte instintiva vence o conflito, e poucos levam adiante suas metas.
Esse é parte do primeiro passo para chegar à sua máxima performance. Se quiser saber mais, fale conosco ou acesse os nossos livros e cursos.