Em busca de um lugar

Hoje vou abordar um tema frequentemente citado pelos alunos, referente à condição de aluno “pré-vestibular”: a queixa de não ser estudante e nem profissional.
Estar situado numa espécie de limbo social, não lhes confere “direito a nada” – carteira estudantil com direito a descontos em atividades culturais; ser dependente financeiramente, não receber benefícios sociais, como pensão por morte dos pais, e, principalmente, ser “aluno de cursinho, que não é nada, não conseguiu nada”, conforme palavras dos próprios alunos. Observa-se nesta fala o sentimento de exclusão, o sofrimento decorrente da sensação de “não-pertencimento”.
Considerando-se que está prevista a participação de 4 milhões de alunos no ENEM, verificamos que essa sensação é distorcida, visto que nenhum vestibulando está sozinho nessa condição. Tem no mínimo mais 3 milhões e 999 outros… Então por que tanto sofrimento?
É perceptível que o aluno pré-universitário vive como se não possuísse passado e nem futuro, vive exclusivamente um presente contido no vestibular – sua vida resume-se a um ano de preparação, depois mais um ano, e depois outro.
E assim vivem de ano em ano, sem confiar na capacidade de continuar “a si mesmo” no futuro, de ser aprovado e de ocupar o lugar de médico, de profissional, ou qualquer outro lugar valorizado na sociedade.
O repetente no cursinho pré-vestibular apresenta sua história como a história de seu desempenho nos últimos vestibulares, erros e acertos nas provas.
Dificilmente relata sua história baseando-se no seu desejo em relação ao seu projeto de vida, nas motivações, no modo de ser no mundo que deseja para si. Muitos relutam em questionar a escolha, pois ficam fixos à necessidade de compensar o “tempo sem ser nada”, que se agrava a cada nova tentativa. Essa confusão entre o “eu sou” e o “eu-vestibulando” é a causa do sofrimento.
Para superar essa etapa e minimizar essa confusão, lembre-se da sua história pessoal integralmente, antes do vestibular e fora dele. Escreva seus objetivos, o que você almeja alcançar a partir da escolha profissional feita e compare: quem sou eu hoje e o que quero me tornar? Você verá que nas suas principais qualidades não haverá grande mudança.
O valor que você tem como pessoa, já existe hoje. A mudança será de contexto, e a partir daí você terá a oportunidade de continuar crescendo. Mas isso você pode começar agora mesmo, caso esteja se sentindo estagnado.
“Ser você mesmo em um mundo que está constantemente tentando fazer de você outra coisa é a maior realização.”
Ralph Waldo Emerson