Não gosto de denominar um ano como “o pior de todos” porque, afinal de contas, eu ainda sou muito jovem e tenho muitos anos pela frente.
O que eu diria é que 2016 foi complicado… Começou aparentemente bem, eu mudei a cor do meu cabelo e tava felizona começando mais um ano de curso pré vestibular acreditando que eu ia passar “dessa vez”.
Comecei tudo certinho, comecei dieta, fazia uns bolos que não davam certo mas me sentia adulta cozinhando e estudando…
Aí em um desses dias de rotina vem a notícia que uma das pessoas mais importantes da minha vida, a minha avó materna, tinha câncer de mama em estágio avançado. Gente, que dor! Que horror! Conviver com isso foi um desafio e tanto, mas me mantive firme nas minhas vontades e aspirações e, talvez pela notícia, mais ávida ainda.
Era fim de março, o outono começava e um dos meus feriados preferidos – a Páscoa – chegava e eu ia me animando com o fato de que esse ano, depois de tanto tempo, eu iria viajar pra algum lugar por alguns dias! O lugar escolhido foi Bento Gonçalves e se olho as fotos do início da viagem não tenho como não notar como estava empolgada! Acontece que a minha companhia não estava tão animada quanto eu, o que tornou a viagem muito menos prazerosa do que eu precisava. A partir desse momento eu notava algo estranho no meu namoro, eu notava que eu era um peso, notava ser desviada de fotos, ser deixada de lado muitas vezes e parecia cada dia mais entender a linguagem dos felinos já que a minha companhia mais assídua era o meu gato.
Assim sucederam alguns dias até que finalmente fui mandada embora da casa onde morava com meu namorado. Dei tchau pro gato torcendo pra que ele se adaptasse sem mim e não esquecesse da minha existência como o dono dele fazia… Seguiram-se dias difíceis em Gravataí, recolocando móveis no meu antigo quarto há muito tempo não habitado em uma casa que já foi minha mas que parecia um lugar completamente estranho. Em meio a tudo isso, um vestibular de medicina no mesmo fim de semana. Fugi? Não, fui lá fazer. Não tivesse esquecido de marcar a opção língua estrangeira talvez já estivesse na universidade.
Estudar enquanto isso parecia já muito estranho, naquele lugar que eu não tava acostumada, com aquele vazio e sensação de insignificância. E para resumir um pouco do que foi os próximos meses, foi essa a sensação predominante, que me fez encontrar amigas e ir a festas que eu não gosto de ir, que me fez ir procurar pessoas totalmente estranhas para tentar suprir a imensa carência que tomava conta de mim.
Então eu reparei que tava perdendo o controle do que eu deveria estar fazendo, mas dessa vez não por ser uma pessoa mimada que não queria só fazer as tarefas, sim por todo o turbilhão de sentimentos por que passei. Resolvi, portanto, retomar tudo e ir estudar! Nossa como tinha tarefas atrasadas… A ponto de não saber como começar. Mas comecei e segui indo às aulas que eu não faltei nenhuma vez, no frio congelante da parada de ônibus às 6:30 da manhã, e assim fui indo até que a chegada da Van amenizou as idas diárias a Porto Alegre. Estamos já por volta de julho, prestes a ter férias e eu resolvo que não quero mais me prender a questões subjetivas e ser um pouco mais focada e começo a ter êxito no que me propunha. Comecei a correr de novo mas exagerei tanto que tive uma inflamação generalizada dos músculos e fui seguindo assim, tentando todos os dias ser um pouco melhor, errando, acertando e indo às aulas. Obviamente sendo eu, não consegui deixar as questões subjetivas de lado e elas continuaram sendo o pano de fundo complicado dos próximos meses também. Desse mesmo jeito passou agosto, setembro, outubro e aí teve a primeira prova importante do ano em novembro: o temido Enem! Ali era o momento de eu demonstrar que tinha me preparado pra essa prova, que eu poderia passar na tão sonhada UFCSPA que, especialmente em 2016, eu tive mais vontade ainda de entrar… Mas no momento que saí do segundo dia de provas entrei em um choro compulsivo porque sabia que tinha dado tudo errado, tinha faltado estratégia e até mesmo conteúdos que eu tinha deixado pra trás. Agora sim posso usar o advérbio: NUNCA tinha chorado tanto desde que consigo me lembrar! Mas como disse a Simone, minha famigerada e espetacular psicóloga, eu estava pela primeira vez sentindo a dor de não passar, tendo me comprometido de verdade com a prova. Ao perceber isso, ao ver que a dor de perder a vaga na universidade que eu queria era maior do que ser deixada por um namorado eu me dei conta do que eu estava fazendo ali. De que eu queria sair dali! Infelizmente, eu só tinha mais 15 dias até a próxima prova – sofri (e descansei) por 7 e estudei os outros 8 dias. Veio de novo a Ulbra, a prova que eu tinha feito no turbilhão dos acontecimentos e o resultado foi que não passei, mas pela primeira vez meu nome apareceu com MEDICINA escrito do lado porque eu estava na suplência! Uma redação mal elaborada ou mal corrigida me tirou a vaga, mas não me tirou ainda o entusiasmo que o resultado tinha trazido, uma janela de ar fresco pros meses sufocantes que eu tinha tido. Faltava mais 7 dias agora para a próxima prova… Para o vestibular que sempre foi de todos o que eu mais queria ser aprovada: PUCRS! Decidi: não vou fazer. Pensei: “eu não vou passar, não consegui Ulbra então não vou conseguir a minha tão sonhada faculdade agora… Talvez eu deixe para o ano que vem”. Coagida a fazer a inscrição, fiz no último dia e paguei na data limite, com a esperança que desse errado e eu não precisasse fazer pra não passar por mais uma dor como a do Enem tinha sido.
Simone me disse que eu só precisava perder o medo das matérias que eu não dominava e foi exatamente isso que eu acabei fazendo, não por seguir o conselho dela acreditando que eu ia passar mas justamente o contrário, “sabendo” que não ia passar mesmo (desculpa Simone, tu sabes como sou teimosa).
Bom, aconteceu que eu acabei indo muito melhor do que imaginava que iria! Acertei 9 na minha pior e mais temida matéria!! Simplesmente fui fazendo a prova sem preocupação nenhuma. Consegui ir mal em duas matérias só, sendo uma delas inglês (acho que umas das que eu mais sei)… E enfim! Consegui uma boa posição, passível de aprovação e estou escrevendo esse texto na véspera de uma das chamadas da PUCRS, que não sei se vai ser a minha.
Mas o mais importante de tudo é perceber, que no momento em que estamos passando por uma situação difícil, parece que ela não vai ter fim, que não existe lado bom em nada e tudo tá perdido mas depois se olharmos de novo vemos quanta coisa boa também tinha lá!
Durante a viagem pra Bento que eu me animei sozinha, apesar do desânimo alheio e do descaso comigo, eu fiz muitas coisas legais: eu visitei a casa da ovelha e toquei em ovelhinhas fofinhas, eu andei por ruas de Bento à noite, eu comi muito da minha comida preferida, descobri um café estilo parisiense com macaroons, fiz as unhas e vi paisagens incríveis!
No momento em que ficava cada vez mais sozinha, eu aproveitei pra assistir documentários indicados nas aulas, assistir filmes fúteis sem ser julgada (legalmente loira ️) e apesar de doloroso o silêncio me fazia estudar melhor.
Quando tive que voltar pra Gravataí, descobri de novo como era bom dormir só com o Kyo, como era engraçado o jeito que ele me acordava com a patinha no meu rosto. Tive meu pai acordando cedo pra me fazer café da manhã, o tipo de carinho que eu não tinha há tanto tempo e ele acabou trazendo de volta, tive minha mãe para eventuais sonequinhas na tarde e via a alegria dela de me ter por perto, o que também eu não notava fazia algum tempo.
Sobre sair à noite porque estava solteira, apesar de ainda achar a atitude equivocada porque estava MUITO frio (risos), eu me impressionei com a prontidão de 3 amigas minhas que encararam o tempo e foram nessa indiada comigo. Voltei com uma delas, que dormiu comigo com mil cobertores e ar quente e me deu torrada na cama no outro dia, mais um carinho que eu precisava e tive!
Sim, eu baixei um aplicativo para conversar com estranhos mal intencionados pra tentar suprir uma carência mas, surpreendentemente a partir dele, encontrei uma das pessoas mais incríveis que já conheci, que presenciou a partir de então vários dos meus momentos ruins, alguns dos meus momentos bons e acabou se tornando um dos meus melhores amigos, uma pessoa que pude e posso confiar e vou levar pra vida toda!
Depois disso, obviamente segui tendo decepções, mas posso dizer com certeza que eu cresci muito! Cresci com a ajuda da Simone, sem ela eu não perceberia hoje como eu sou. E a sensação de se conhecer, a sensação de saber admitir os erros e aprender com eles é revigorante! E eu não aprenderia nada disso se não tivesse passado por tuuudo isso: o término, a mudança de casa e uma doença grave na família. Claro que isso teve consequências psicológicas e também físicas: foi o ano auge do chocolate na minha vida e com ele a pele ruim e uns quilinhos a mais. Mas posso dizer que valeu a pena!
Termino dizendo que meus problemas não acabam aqui, que acredito que sempre haverá obstáculos e momentos difíceis a se enfrentar e que os momentos bons também estarão ali escondidos, para aqueles que conseguem vê-los…
Sempre temos a família que estará a nosso lado, bons amigos pra quem podemos desabafar e compartilhar alegrias (embora alguns não queiram as alegrias), nossos animaizinhos de estimação que também tanto nos amam e tudo isso cercado de dias bonitos, feios, dias frios, dias quentes, flores e tudo que nos cerca.
E a maior verdade que eu nunca acreditei: o vestibular não é tudo na vida! Se vocês não desistirem, vão acabar se dando conta e vão passar! Alguns precisam mais tempo pra amadurecer (meu caso), outros têm a sorte de encontrar uma psicóloga maravilhosa pra acelerar esse processo, mas tudo se resolve, tudo MESMO!
Outra verdade que aprendi por conta própria: achamos que só nós temos problemas, que só o nosso ano está complicado ao olhar para os colegas- as pessoas não são o que aparentam! Eu mesma fazia de tudo pra não deixar os problemas transparecerem, então não pensem que o mundo dos outros é o mundo perfeito. Não existe isso! Não pensem que um colega é mais feliz ou até mais inteligente: vocês não sabem como ele estuda, por que situações ele passa. Não se comparem!!
Eu agora posso passar na PUCRS (isso é muito bom de se dizer ) e a minha vó sobreviveu a todas as quimioterapias, fez cirurgia e amanhã tem a última radioterapia! Sobre o namoro, resolvi perdoar e não guardar mágoas e estamos de novo juntos.
Eu só tenho a agradecer por tudo que aprendi e por todos aqueles que ficaram do meu lado, torcendo por mim e querendo meu bem. E também agradecer àqueles que não o fizeram: é extremamente importante livrar-se de pessoas tóxicas!
O que mais importa nessa vida é ser feliz, ter planos, ter saúde e não desistir dos sonhos! Acreditem nisso. E façam o que eu não fiz: acreditem em vocês! Dessa forma a aprovação vem muito antes. Beijo sincero a todos!